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30.6.01

Sábado. Mas não me animo.
Deslocaram-me para a seção de fofocas televisivas e escalaram-me para investigar quem uma dessas estrelas de novela andava beijando na boca. Então lá estava eu, em meio ao ensurdecedor baticum da pista de dança, driblando corpos em movimento, à procura da bela.


É um trabalho extenuante! Os graves afetavam-me a precisão do vôo, os agudos incomodavam-me os nervos, tapas e safanões causavam-me um certo pânico. Numa dessas, perdi o controle e caí dentro de um coquetel colorido. Havia ali uma cereja, e cerejas são a minha perdição.


Tentei ser discreto e saboreei a fruta em inquieto deleite. Súbito, senti-me levado pela correnteza e notei que o copo se inclinava. Olhei de soslaio e percebi a boca carnuda, o batom de um vermelho intenso. Era ela!


Mal tive tempo de roçar-lhe os lábios, provocando imediata repulsa. Fui cuspido e arremessado contra o chão. Asas molhadas, não conseguia voar. E via a aproximação de saltos poderosos, tênis importados, sapatos de couro. Enquanto minha investigada provavelmente se contorcia em sensuais coreografias, eu, pobre e injustiçado inseto da imprensa, rebolava para escapar aos pisões.


Embriagado de álcool e desespero, na penumbra do ambiente, passei boa parte da noite "dançando".
Ah, meu Deus! Por que não escolhi trabalhar em confeitarias, como meu velho pai?

28.6.01

Chove.
Vôo devagar.
Procuro em vão uma marquise – não há.
Interrompo a ronda ao ver o Pão de Açúcar emergir da neblina. A visão me inebria.
Imagino-me saboreando glacês ilusórios, pseudofrutas cristalizadas, sonhos ao pé da letra.
Nisso, sinto-me violentamente contido por um emaranhado de fios.
Alguém tenta deter este inseto da imprensa!
Olho ao redor e vejo-me ao lado de uma repugnante aranha.
Francamente, um profissional como eu mereceria um final mais digno.
Ela vai dizer alguma coisa, uma frase lapidar...
"Aí, colega, bom te ver por aqui! Agora que você caiu na rede, dá pra divulgar o meu site?".


Afinal, por que não? Estou vivo, não estou?

26.6.01

Não se acanhe!
Mande-me sugestões de pauta! Serão apreciadas com gosto.
Bzzzzzzzzzzzz...
Voei!

25.6.01

Ah, um fim de semana!
Um dia na praia, dourando as asas sob o tímido sol de inverno, contemplando ao longe as fezes caninas.
Maresia, poesia, letargia... eta, vida besta, meu Deus!

22.6.01

Aposto que você um dia desejou ser uma mosca. Para conhecer segredos, descobrir o que dizem as mulheres no banheiro, saber o que faz seu marido quando fica até tarde no trabalho.
Pois eu lhe digo: você jamais saberá o que é estar a baixa altura no centro do Maracanã lotado no momento de um gol do seu time. Não sentirá a vibração das ondas sonoras, a brisa intensa a preencher os espaços, fazendo você levitar.
Tampouco terá idéia do que é presenciar furtivamente uma negociata nos altos escalões do poder.
Você não sabe que coisas terríveis o seu vizinho esconde, não tem noção do que ele fez com a coleção do Veríssimo que você lhe emprestou no ano passado, nem sequer imagina suas taras inconfessáveis com anões besuntados.
Não, você não percebeu, em Roland Garros, quando eu disse ao Guga: "Agora! Na direita dele, na paralela!". E ele fez exatamente como lhe disse, mas depois me afastou com um safanão, o ingrato.
Nunca em sua vida você sentirá as sensações que me invadem a alma ao aspirar um pouco de Detefon.


Mas também jamais levará uma chinelada.
Minhas costas, ai, como isso dói!

19.6.01

Um intrépido repórter como eu precisa estar preparado para tudo.
Até mesmo para subir ao Olimpo e contar as últimas à doce Afrodite.

8.6.01

Tudo às escuras.
Qualquer zumbido me denuncia, qualquer frase me afasta do alvo.

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